2.1.1. Descobrir o ato de contar histórias

Enquanto seres humanos contar histórias é algo que nos é inato e é universal à experiência humana. Como refere a National Geographic (NG), “embora seja provavelmente impossível de provar, tem sido sugerido que a narração de histórias se desenvolveu pouco tempo depois do desenvolvimento da própria linguagem” e salienta ainda que “Todas as culturas contaram histórias… Faz parte da nossa natureza relatar e comunicar histórias, quer sejam baseadas em experiências autênticas ou em factos imaginados”.

Algumas das mais antigas evidências de histórias provêm de desenhos rupestres em Lascaux e Chavaux, em França. A NG demonstra que “os desenhos, que datam de há 30.000 anos, representam animais, seres humanos e outros objetos. Alguns deles parecem representar histórias visuais. É até possível que as cenas retratadas nas paredes das cavernas estivessem associadas a algum tipo de narração oral.”

De acordo com Ingov (2022), “As características de uma narrativa oral incluem o seguinte:

  • Enredo: O enredo é a sequência de acontecimentos que ocorrem numa história. Inclui o conflito, a evolução da ação, o culminar, a queda da ação e a resolução.
  • Personagens: As personagens são as pessoas ou os animais que participam na história. Podem ser bons ou maus, protagonistas ou figurantes.
  • O contexto: é o tempo e o lugar onde a história se desenrola.
  • O tema: é a ideia ou mensagem central da história”.

A narração de histórias é a arte de contar histórias com base no nosso gosto inato pelas histórias. O seu objetivo é criar emoção e uma ligação entre o narrador e o público, para tornar a experiência o mais viva e memorável possível. Este ato, uma técnica de comunicação antiga, resistiu ao teste do tempo e é hoje mais relevante do que nunca, um testemunho do poder da ligação humana através da narração de histórias. Uma parte essencial de uma boa narrativa é a representação das lutas e sentimentos humanos.

Robert McKee conclui que “as histórias são a conversão criativa da própria vida numa experiência mais poderosa, mais clara e mais significativa. São a moeda do contacto humano”.

As práticas de escrita pessoal (biografias, autobiografias, diários, memórias, etc.) refletem a época e a cultura em que foram escritas. A escrita do “eu” floresce nas sociedades modernas e pós-modernas, onde as diferenças individuais são exacerbadas.

Uma abordagem moderna à narração de histórias como uma modalidade de cura vem do campo emergente da gerontologia narrativa. Este domínio oferece uma abordagem científica ao estudo do envelhecimento através da observação de acontecimentos transformadores da vida e das histórias contadas sobre esses acontecimentos.

A forma como as pessoas veem o mundo e o seu lugar nele depende da forma como olham para a sua história de vida. O narrador não só recorda o seu passado, como também afirma a interpretação desse passado. Este é um dos fundamentos da narração de histórias: na ausência de uma história que nos ajude a compreender, contaremos naturalmente uma a nós próprios.

Segundo Sudres (2004), muitos idosos “escrevem a história da sua vida na cabeça” e só estão à espera de um incentivo para a contar.