1.3.4. Ultrapassar os desafios – algumas boas práticas de inclusão

A demência consiste num declínio global das chamadas funções corticais (ou do sistema nervoso superior), incluindo a memória, a capacidade de lidar com as exigências diárias e de executar capacidades precetivas e motoras previamente adquiridas, a manutenção de um comportamento socialmente adequado de acordo com as circunstâncias e o controlo das reações emocionais, tudo isto na ausência de uma afetação do estado de vigilância. A doença é frequentemente irreversível e progressiva, tal como definida pelo Comité de Geriatria do Royal College of Physicians da Grã-Bretanha em 1982.

Uma pessoa com demência mantém a capacidade de sentir emoções, tanto positivas como negativas, de ter desejos e de ter necessidades psicológicas. O que ela perde, no entanto, é a capacidade de satisfazer esses desejos e necessidades de forma autónoma.

Kitwood (1997) explicou que a “psicologia social maligna” surge porque as pessoas com demência raramente são visíveis ou reconhecidas na sociedade, o que mina a personalidade destes indivíduos. Por conseguinte, estas pessoas são tratadas de forma desumana em resultado desta despersonalização.

Há uma lista de palavras que indicam muitas estratégias erradas para lidar com pessoas com demência: intimidar, retirar, apressar (não acomodar o ritmo), infantilizar, rotular, denegrir, acusar, enganar, invalidar, incapacitar (impedir a pessoa de usar as suas capacidades remanescentes), impor, intrusão, tratar como um objeto, estigmatizar, ignorar, excluir, gozar. Por outro lado, o estado de espírito adequado para manter o contacto e trabalhar com pessoas com demência é descrito por esta segunda lista de palavras: proporcionar afeto, ser reconfortante, adaptar o ritmo, respeitar, aceitar, celebrar, reconhecer, ser genuíno, validar, elevar, facilitar, criar condições adequadas, colaborar, apreciar, incluir, acolher, divertir-se.

Exemplos de boas práticas do trabalho com pessoas idosas com demência

Utilizar as histórias de vida com as pessoas idosas – um laboratório de narração de histórias

A estratégia consiste em abordar todas as semanas um tema diferente relativo às histórias de vida e aos acontecimentos passados com elas relacionados. A ordem cronológica das memórias é seguida para traçar o percurso de vida de cada indivíduo. Os dinamizadores propõem diferentes temas relacionados com o passado: introdução, família de origem, guerra, casamento, escola, profissão, filhos, netos, comida, rimas e provérbios, canções, jogos, trabalhos, transportes, estilo de vida, “efervescência intemporal”, comparação entre a juventude atual e a do passado, presente e futuro.

Esta atividade procura atingir objetivos que trabalhem a memória, tanto cognitiva como emocional. As pessoas idosas são convidadas a recordar a sua experiência com a memória autobiográfica, a função cognitiva de manutenção, a função emocional de integração do eu e as funções instrumentais e processuais.

Projeto Emoções – Formação em competências sociais

Consiste na formação das competências que permitem aos indivíduos interagir com os outros de forma satisfatória. Trata-se de uma ajuda concreta e orientada para a criação ou a integração numa rede de relações interpessoais. Com este propósito, o/a profissional pretende intervir na esfera afetiva e relacional das e dos participantes. O seu objetivo é reforçar as competências sociais das pessoas para melhorar a qualidade das suas relações interpessoais e criar uma rede social de apoio e de estímulo, da qual cada indivíduo possa retirar apoio. Por último, procura melhorar o estado de espírito das e dos participantes como consequência direta dos fatores acima referidos, bem como através da promoção de estratégias de adaptação às mudanças sociais em curso e às dificuldades encontradas na nova comunidade. A/O profissional aborda temas relacionados com as competências sociais, como o reconhecimento e a expressão das emoções e as estratégias funcionais de adaptação aos problemas encontrados.

As ferramentas adotadas envolvem discussões em grupo, que são fundamentais para criar um sentimento de pertença a esta microcomunidade, aumentar as competências dialéticas e relacionais e gerar novas soluções através da discussão entre pares. Várias técnicas são utilizadas, tais como: situações lúdicas, mímica, adivinhas, brainstorming, partilha de acontecimentos autobiográficos com o grupo e discussão de temas pré-determinados. Os temas propostos têm como finalidade realçar as dificuldades típicas das pessoas idosas institucionalizadas, como o envelhecimento, a saudade da família, as deficiências físicas e cognitivas, a perda de rotinas, etc.